Quinta-feira, 16 de Agosto de 2007
id="BLOGGER_PHOTO_ID_5099439934430504466" />Bonito, bonito era falar de vinho e só falar de coisas de que se gosta. Era sinal de que se escolhiam bem os vinhos, ou então de que estávamos num país de eleição, de tradição vinícola, em que mesmo os vinhos menos bons eram bons.
Quando digo que dou um 16 a um Dom Rafael, é um 16 merecido. Não há 16 aos pontapés. Sou um gajo exigente, nenhum supra-sumo da batravinícola, mas quando gosto... gosto. E quando não gosto, digo mal.
Este maldizer muito português é um maldizer mais purinho do que o que por aí abunda. Eu digo mal porque gostava que se fizesse melhor. Não digo mal apenas para deitar abaixo. É que, essa sim, é a tradição portuguesinha. Não digo mal porque fazia melhor, apesar de achar que, se soubesse, fazia um vinho do caraças, mas porque gostava que tivesse sido melhor feito.
Estou falar como se o João Portugal Ramos me ouvisse, porque estas palavras são dirigidas ao fraquinho, fraquinho
Loios 2006 tinto que por ali se produziu.
"
Uneventful". Quando bebo vinho, para mim é sempre uma ocasião. Neste caso, beber vinho foi tudo menos uma ocasião. Eu explico, é simples: tanto podia ter estado a beber vinho como a beber água. Cá p'ra mim, aquele "Loios" foi um refresco. Tive o cuidado de o deixar à temperatura, ali perto dos 18, 19º.
Àquela temperatura é um vinho
chato,
flat, coisa sem personalidade, seja no nariz ou na língua. E como sou um gajo exigente, dou-lhe um
10 e só porque, apesar de tudo, não é desagradável. Resumindo: à temperatura... é refresco. Mais quente, só se sentem os 14º que lá estão engarrafados.
Como o vinho é um ser vivo, a melhor tradução que arranjo para estes "Loios 2006": é um
panhonha. Passa-nos ao lado, e só se houver pior e não houver mais nada é que volto a bebê-lo. Naquela gama de preços, e por mais que não seja um fã do Dão, temos um "Quinta dos Grilos": mais barato, e muito superior a este Loiozito.
id="BLOGGER_PHOTO_ID_5099439376084755970" />Como nota adicional, já que falei das monocastas do JP Ramos, o meu compincha dos AU presenteou-me com o "Aragonês" do dito. No início trambolhei ao achar que era tudo menos Alentejano. É um "tempranillo" que só se justifica porque é uma curiosidade. É um bom vinho, mas numa perspectiva de qualidade-preço só se justifica exactamente porque é um "freak", algo que se faz pouco por cá. Não tem muito de excepcional. Nem muito nem pouco, não tem nada, mas não compromete.
Dava-lhe um
14 porque, ao fim e ao cabo, é um vinho que encaixou bem na refeição em questão, mas posso ter que provar melhor antes de me decidir.
As notas aromáticas são de fruta madura, achocolatado, com especiaria. É um vinho "cheio", encorpado, denso, que não compromete mas que também não me dá vontade de telefonar a toda a gente a dizer que têm que o experimentar.
Curiosamente, já que falo em curiosidades, é o que se diz do
Syrah do mesmo senhor e relativamente ao qual eu tenho alguma (curiosidade). Que ele não se desleixe, e que não faça vinho só por fazer. Qualquer dia, ainda lhe dá para fazer Monte Velho.
Sexta-feira, 3 de Agosto de 2007
Uma lúcida recomendação a todos os incautos internautas que possam por aqui passar:
Dom Rafael, tinto 2004.
id="BLOGGER_PHOTO_ID_5094266363866956466" />Ali mesmo ao lado da Quinta do Carmo há uma herdade que faz uns vinhos de dar pontapés na alma: a Herdade do Mouchão e o seu supostamente menos nobre Dom Rafael.
Duma predominante Alicante Bouschet e das também tradicionais Aragonez, Trincadeira, Periquita e Moreto, nasce um Dom Rafael de cor forte, com frutos vermelhos relativamente maduros e um aroma onde identificámos (eu e o outro alcoólico unânime que aqui posta) algumas especiarias. Quais é que ele não soube, definitivamente, dizer.
Também sentimos o genuíno "pirolito" da sua acidez, porque é um vinho jovem e com ganas, o que justifica que, apesar de tudo, seja intenso e com um comprimento de língua mais que suficiente.
Curiosamente, o cepo do outro AU identificou a madeira, do carvalho em que estagia o Dom Rafael. Tudo indica que ele teve oportunidade de ler o rótulo enquanto eu estava a cozinhar. Ou então sentiu-se imbuído da inspiração que graceja os bons bebedores, especialmente quando já bem beberam.
Apesar de sermos ambos apreciadores de um bom Chaminé (nesta gama de preços, entenda-se), ficámos com a impressão unânime (alcoólica) de que o Dom Rafael lhe é superior.
Na nossa mui humilde opinião, diria que, de
0 a 20, é um sólido
16.
E já que falamos nisso, ao Chaminé eu daria um belíssimo
15. O
Syrah que está tão na moda, ao fim e ao cabo, ainda se adaptou muitíssimo bem ao nosso Alentejo.
Já agora... com é que estará o Syrah do João Portugal Ramos?
"Perdidos!... de bêbados!".
Um grupo de indíviduos com questões e problemáticas relevantes sobre o seu passado, mas sempre encobertas e reveladas ocasionalmente, fica perdido numa ilha de areia na costa alentejana. Durante 15 minutos.
Como estão perdidamente embriagados e têm álcool à disposição de forma praticamente incessante (para os 15 minutos em questão), pensam estar perdidos. No fundo, estão apenas...
Perdidos... de bêbados.
A série consegue prolongar-se por várias épocas porque, ao fim e ao cabo, os produtores também estão perdidos de bêbados e, como todos sabemos e já experienciámos, um bêbado inspirado tem um poder de persuasão inquebrantável.
Quarta-feira, 13 de Setembro de 2006

retirado do livro de Russell Ash, "The Top 10 of Everything"
Urge instigar o consumo de álcool no país! Não podemos perder mais esta para um país civilizado da Europa!
Os Alcoólicos Unânimes subscrevem qualquer medida que permita a Portugal, finalmente, ser o número 1 em qualquer coisa. E em especial neste ranking.
Luxemburgo como segundo país com o maior índice de consumo de bebidas alcoólicas no mundo inteiro? Só se for pelo contingente de emigrantes portugueses...

"I formed a new group called
Alcoholics-Unanimous. If you don’t feel like a drink, you ring another member and he comes over to persuade you." *,
Richard Harris (1933 - 2002)
* "Formei um grupo novo chamado
Alcoólicos Unânimes. Se não te apetecer uma bebida, ligas a outro membro e ele vem ter contigo para te persuadir"
«Nos anos 80, Harris era um dos actores principais numa peça em cena no London Palladium. Passava grande parte do dia a beber no Soho, no entanto. Numa das tardes de deboche meteu conversa com uma louraça. Harris explicou-lhe que entrava numa peça e que ela tinha que ir assistir ao espectáculo. Arranjou, então, maneira de um amigo ir até ao teatro e trazer-lhe dois bilhetes.
Umas horas valentes depois, Harris e a loura estavam bem "embisnagados". Ele meteu a mão ao bolso, achou os bilhetes e decidiu levar a louraça ao teatro. Dirigem-se ao lugar marcado, e sentam-se. 10 minutos depois do início da peça, Harris levanta-se e grita "Ora, foda-se! Eu entro nisto!" e sai a correr para o camarim para trocar de roupa».
Segunda-feira, 11 de Setembro de 2006

Descrição roubada escandalosamente de um site qualquer:
"Pop the cork off any gathering with WINEOPOLY! Players buy favorite wines, collect bunches of grapes and trade them in for decanters. Sounds easy enough but add Import Taxes and serving faux pas and it becomes a little more difficult and a lot more fun! Learn while you play! Each deed back contains wine descriptors and fun facts about each wine. It's all fun and games until you're sent to the Wine Cellar to age-then you're out of the game for three turns. So choose your token (wine bottle, cork, wine glass, cheese, grapes, or a carafe) and advance to CHEERS! Who knows? You may be elected president of the wine club or you may be penalized for serving obtrusively malodorous cheese!"
Já consigo imaginar, as horas de deleite, os castigos, as recompensas, acordar todo nu no chão frio de uma tasca com "Rosita" tatuado na peida... Enfim... Horas e horas de diversão!
Terça-feira, 30 de Agosto de 2005
El Presunto Terrorista - A comprehensive translation.
The terrible story of the ham that, after having been rejected by a cup of red wine (of Portuguese origin), decides to leave its mark by sponsoring terrorist events throughout the remotest villages of our deep, deep Portugal.
Known only as "LaPata Negra", his true identity has never been disclosed, nor the piglet's leg from which it originated. His aversion to Portuguese red wine is well documented by the scandalous remarks it sends to Portuguese tabloids wherein he states that he can find better and cheaper foreign red wines in any given supermarket of our most noble nation of such excellent winemaking ability.
"LaPata Negra" who, as a little ham, wanted to be a "chorizo", still keeps its aspiration to end up sliced in a green broth, as a sign of protest. One never knows where it can launch its cruel attacks, or which will be its next target. Nobody in their right mind accompanies ham with Portuguese red wine in our fine taverns since
Abel Blowpipe (nickname due to his profession) once almost choked on a slice of the tidbit of (most*) Portuguese people's delight.
* Vegetarians not included.
Segunda-feira, 29 de Agosto de 2005

A terrível história de um presunto que, após ter sido rejeitado por um copo de vinho tinto (de origem nacional), decide deixar a sua marca patrocinando eventos terroristas pelas localidades mais remotas do Portugal profundo.
Conhecido apenas por "LaPata Negra", nunca se descobriu a sua verdadeira identidade, ou a perna de porquinho de onde seria oriundo. Sabe-se da sua aversão ao vinho tinto nacional pelas declarações escandalosas que envia aos tablóides portugueses onde diz que consegue arranjar melhor vinho tinto estrangeiro a preços mais baixos em qualquer hipermercado da nossa nobre nação de altíssima vocação vinícola.
"LaPata Negra" que, em pequeno, queria ser chouriço, mantém ainda a aspiração de acabar cortado às rodelas num qualquer caldo verde, como sinal de protesto. Nunca se sabe onde pode atacar, ou qual será o seu próximo alvo. Ninguém no seu perfeito juízo acompanha o presunto com vinho tinto nas tascas do nosso país desde que Abel Maçarico (alcunha devida à sua profissão de bate-chapeiro) se engasgou e quase sufocou com uma fatia do petisco por cá tão apreciado.
Domingo, 17 de Abril de 2005

A história comovente (mais uma) de um pequeno tomatinho que vivia no campo, algures entre os Casais Martanes e o Alqueidão - no alegórico reino do RibaTexas - e acaba esmagado num Bloody Mary de um Alcoólico Unânime a curar uma ressaca.
Mil e uma aventuras, desde o momento em que se despede do Papá Tintim e da Mamã Vermelhuska (era de origem transgénica, proveniente de um país de Leste... inclusivamente, estava para ser um aipo, mas por causa da cor optou por ser antes tomate) até à sua viagem para a cidade e ao último suspiro manifestado através de uma sonora manifestação de flatulência gástrica por parte do ressacado AU.
A grande lição de que há males que vêm por bem.
(Quais é que ainda não percebemos.)
Segunda-feira, 4 de Abril de 2005
Uma obra-prima da literatura de Carrazeda de Ansiães (a par com o Manual para Ordenhar Cavalos – uma obra algo incompreendida), que conta a história de Justino, um trolha que sofre de uma particular disfunção psiquiátrica que o leva a confundir-se com outras pessoas. A vida de Justino sofre uma trágica reviravolta quando, bêbado, dá uma volta sobre si próprio.
Mais adiante no livro, Justino sofre um revés ainda mais trágico quando se surpreende a si próprio com a sua mulher. Cego pelo ciúme (e pela própria falta de visão, dado que possuía 2,1% de visão num olho e – 0,5% no outro), tenta-se matar a si próprio com vários tiros de caçadeira, mas apenas consegue obliterar os seus próprios órgãos genitais. Passa o que lhe resta da vida no coro infantil da Igreja de Carrazeda de Ansiães, como soprano, onde goza de um sucesso relativo, vindo a gravar vários CD’s com o Frei Hermano da Câmara, e a casar com ele, mais tarde, após um feio processo de divórcio (não tão feio quanto a mulher de Justino, apesar de tudo), findo o qual Justino perdeu a custódia dos dois furões adoptados pelo casal.
A epopeia de um super-herói cujos superpoderes consistem na capacidade de se transformar numa alcatifa sempre que se irrita com filas em repartições públicas. Trata essencialmente da sua constante luta contra vários tapetes a mando das forças do mal e ácaros megalómanos que buscam o controlo do poder mundial.
É a comovente história de um aspirante a escritor que tem ideias geniais, mas que não as consegue transpor para o papel, porque além de ser alérgico a teclados (seja de computadores ou máquinas de escrever), padece de artrite crónica nas mãos desde tenra idade, não conseguindo escrever mais do que 3 linhas de texto seguidas, no espaço de duas horas. Esse mesmo facto impediu-o de concluir a quarta classe.
Depois de ser expulso das aulas de estenografia avançada, por constantemente conspurcar os ecrãs dos computadores com muco resultante dos seus violentos espirros, recebe uma mensagem no telemóvel onde é revelado o segredo da sua artrite, que nunca lhe foi devidamente explicada até àquele momento fatídico: Bernardo é bastardo, filho ilegítimo de um homem que sofria de artrite e de uma sopeira. Mais tragicamente ainda, fora a sua suposta mãe quem enviara a mensagem, farta de lhe aturar as crises existenciais.
Decide lançar-se na busca do seu verdadeiro pai, sempre escrevendo 3 linhas por cada duas horas sobre a epopeia em que se lançara nesse dia. Ao fim de 6 horas, descobre que o pai é um escritor famoso (não alérgico a teclados) que, ao encontrar-se com o filho e ler os seus eternamente incipientes textos, repudia o seu estilo como não sendo digno "de um puto na quarta classe" (que Bernardo nunca acabou).
Confuso, refugia-se na bebida.
Ora, porra. Começa bem. Eu próprio fiquei confuso.
Vamos inaugurar aqui a rubrica "A Minha Musa é um Copo de Tinto" e deixá-lo aberto às sugestões dos nossos 4 (ou 5) leitores.
Para participar, basta deixar nos comentários a sugestão do título de uma obra literária que possa fazer parte do referencial AU, mas que seja da vossa original e brilhante criação. As melhores terão direito a publicação no blog AU, com a devida nota explicativa/sinapse.
Já de seguida, irei dar um exemplo daquilo que pretendemos.
Quinta-feira, 24 de Fevereiro de 2005
Uma das grandes maleitas que assoma os extensos filões de Alcoólicos Unânimes que deambulam por este mundo perdido e intolerante, dá ao orgulhoso AU uma série de idiossincrasias que o assemelha ao vampiro. De certa forma, os AU são como os mordedores de pescocinhos de jovens incautas: muita gente fala deles, mas ninguém os viu. Tudo deriva do facto de os verdadeiros AU terem no Alcoholic Stealth um desempenho magistral. Passo a explicitar: tal como os vampiros, we only come out (fully) at night. Durante o dia, muitos de nós somos seres funcionais, brilhantes até, mesmo que a purificação (por oposição ao leigo termo intoxicação) comece ao pequeno-almoço.
3. A LANTERNA DIVINA ou ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA MATINAL
Um belo dia de semana, saímos à hora do trabalho, pudemos descansar ao chegar a casa. No início da noite, há algo que parece faltar, as nossas veias estão geladas, o céu da boca está seco, o coração palpita, os músculos do braço contraem-se como se à procura de um copo no qual possa agarrar. Há que sair de casa para ir beber uns conhaques.
Ao chegar ao nosso bar-fornecedor-de-talocha preferido, somos confrontados com um grupo de amigos que não víamos há alguns dias. Como eles já começaram a beber, têm muitas saudades nossas. Sentimo-nos instantaneamente impelidos a partihar desse amor fraterno que existe no coração de um Alcoólico Unânime mas que está, muitas vezes, camuflado pela força opressora da sobriedade.
22h - Les Xiripiti (Fase I da Bebedeira - 1 a 3 copos)
Para quem ainda desconhece o termo, Xiripiti é o nome atribuído a qualquer preparação alcoólica que contenha mais do que duas bebidas distintas, no âmbito do lingo AU. A melhor maneira de garantir que o percurso para a estupidificação é glorioso é começar de forma agressiva e determinada. Nada como um bom Vodka com Absinto para começar, coisa suave. No espaço duma hora, será normal que se chegue ao terceiro. Estamos ainda na 1ª fase da Bebedeira.
Ao fim do terceiro copo, é normal que se queira dar um abraço a um desses amigos e dizer qualquer coisa do género "Já sentia falta disto" ou "Gosto muito de sopa!". Por esta altura, será normal a consciência começar a espernear e dizer-nos que às 23h vamos embora para casa, porque o dia seguinte é de trabalho. Qualquer Talochofóbico passa despercebido ao nosso olhar, porque ainda não estamos bêbados. Os nossos padrões de beleza permanecem intactos, pelo que qualquer ser do sexo oposto que nos atravesse o olhar é perfeitamente ignorado.
23h - Beware Of Straws (Fase II da Bebedeira - 3 a 6 copos)
O ritmo de ingestão de bebidas alcoólicas será reforçado nesta 2ª fase. Queremos pagar bebidas a toda a gente, e os nossos amigos insistem que nós bebamos mais, apesar de ainda termos um copo na mão. Faz parte da ética do verdadeiro AU nunca recusar uma bebida, especialmente quando é oferecida por um amigo. Aliás, especialmente quando é oferecida. Digo, quando ela existe (e não há limites para a imaginação). Alcoólico Unânime que se preze, beberá de um trago o remanescente conteúdo do seu copo e perguntará logo que possível, ou depois de expelir flatulência "Então? Onde é que está o meu copo?" ou "Quem é que fez um furo no meu copo?". A partir dessa altura, será requerido, e muito normal, que o AU desconfie de toda e qualquer pessoa que se faça acompanhar de uma palhinha e lhe pergunte "Foste tu que bebeste o meu conhaque, não foste?"
Se o AU começar a desenvolver ideias ridículas de ir para casa porque o dia seguinte é de trabalho, os restantes AU's deverão tomar a responsabilidade de o manter no bar, oferecendo-lhe "só mais um copo, vá lá, depois podes ir embora". A ingestão dessa generosa oferta deverá ser seguida, imediatamente de um suspiro (ou flatulência, tanto faz) e de um lamento "Ah... tenho tanta sede!", um olhar terno e lacri-cri-mejante. Como uma das regras dos AU é nunca deixar um amigo com sede desamparado, o AU que outrora tivera ideias de deserção precoce irá abandonar esse propósito inusitado, patrocinado por nova oferta dos seus companheiros de alarvidade beberrológica.
É normal que, nesta fase, os seres do sexo oposto comecem, das duas uma: a parecer mais atraentes; a ser cada vez mais um alvo preferencial do nosso afiado sentido crítico, com reforço da nossa capacidade inata de escárnio e mal-dizer. (nota pessoal: confesso que sou particularmente adepto desta vertente)
24h - Tenho Uma Lágrima No Canto Do Olho (Fase III da Bebedeira - 6 a 9 copos)
O primeiro sinal de que um grupo de AU começa a ter bêbados no seu seio, é a existência de um dos membros a tentar levantar no ar um dos seus companheiros. Normalmente tratar-se-á de alguém que é tido como lingrinhas, e que precisa de se afirmar levantando um dos seus companheiros que pode só pesar mais do que o dobro.
(nova nota pessoal: lembro-me perfeitamente de quando apontei este sinal como revelador de uma beberrologia avançada: estava a tentar levantar no ar um jovem companheiro AU que pesa 140+ kg, o que excede em mais do dobro o total do meu actual peso corporal. Cedo cheguei à conclusão que é muito mais fácil levantar alguém que pesa só 110)
"Ok, depois de levantar mais este, e provar a minha hercúlea capacidade de levantamento do badocha, vou para casa, porque amanhã tenho que ir trabalhar", é um pensamento que, em casos normais de beberrologia bem sucedida será seguido de "Bem... mas se for só daqui a uma hora, ainda consigo dormir o suficiente, e ter tempo para um banhinho quente antes de sair para o trabalho".
A partir desta hora, todos os pensamentos sobre trabalho serão apagados e, caso excepcionalmente ainda não o sejam, cabe aos restantes AU's tratar de falar apenas de pormenores fúteis e insignificantes, nada de muito profundo que possa levar a reflexões laborais que não sejam "Gostava muito de ser pastor na Nova Zelândia... ou no Burkina Faso, tanto faz", sendo que é a referência ao país da África Central o que revela o incipiente estado de nanição etílica (o oposto de inanição, no lingo AU).
É muito provável que se comecem a verter algumas lágrimas, saudades de tempos que não houve, ao balcão, agarrado a um copo de meio litro (e as memórias são sempre dos copos cheios, e nunca dos vazios, porque dos vazios não reza a história).
O saco lacrimal está a preparar-se para mais uma acervo de fraternidade.
25h (ou, vulgarmente, 1h) - Tenho Xi-Xi, e Vou Fazê-lo - Fase IV da Bebedeira (10 a dezamuitos copos)
Começa a urgência da deambulação. Seja ela em direcção à casa-de-banho mais próxima, porque a bexiga, infelizmente, não é tão expansível como gostaríamos, seja em direcção a outros antros da perdição hepática.
Na nova cabalística Alcoólica Unânime, a partir das 10, todas as bebidas serão contabilizadas com o prefixo "dez". Exemplifico: à vigésima bebida, devemos sempre contabilizar dezavinte. Há uma razão simples por detrás disto. Ou à frente, mas a esta hora já não interessa. Perante os Talachofóbicos que começam a poder reconhecer que estamos a ficar alcoolizados (com tudo o que isso traz de bom), nós teremos sempre bebido menos do que realmente emborcámos. Nunca chegaremos aos vinte copos, ficaremos sempre pelas dezenas... por outro lado, é um reforço para continuar, como um coelho ao qual nunca se chega numa corrida de galgos.
(CONTINUA)
Quinta-feira, 17 de Fevereiro de 2005
Há falta de papel higiénico lá em casa. Preguiçoso como sou, estou à espera que chegue a carta do Santana Lopes pelo correio.
Terça-feira, 15 de Fevereiro de 2005
Martini Rosso, com um twist de limão. Quando me sinto mais snob, pode ser um Vodka-Martini (shaken, not stirred) com um twist de lima. O Vodka servido 10 minutos depois de sair do congelador, e o Martini Bianco seco.
Enquanto não é aqui publicada a IV e última parte da autobiografia de João João Puré, é da mais elementar justiça que se dê a conhecer, como aperitivo, pitadas do génio e astúcia do multifacetado artista, manifestados amiúde nas suas brilhantes máximas.
Aqui fica uma, desconcertante na sua inescrutável perspicácia.
'O sentido da vida é uma batata'.
Segunda-feira, 14 de Fevereiro de 2005
A segunda parte dos Conselhos Práticos para uma Beberrologia Compreensiva vai de encontro a uma das necessidades mais prementes de qualquer Alcoólico Unânime mais impaciente: manter-se distraído enquanto os outros beberrões que porventura nos acompanham estão atrasados na refrega etílica.
2. COMO MANTER-SE ENTRETIDO DURANTE UMA SESSÃO BEBERROLÓGICA
Aqui vamos para um conselho muito prático. Há várias maneiras de entreter e estar entretido enquanto se bebe. Os jogos de cartas são uma tradição recorrente de configuração eminentemente lusa. Mas renovar é reviver, há que injectar vinho novo na garrafa da tradição.
O jogo de FuteCopos é idealmente jogado por duas equipas de 3 elementos, sendo que em cada equipa existirá um Guarda-Redes, um Centrocampista e um Ponta-de-Lança, dispostos por esta ordem numa mesa. Os centrocampistas defrontar-se-ão directamente, e os Pontas-de-Lança tentarão marcar golo aos Guarda-Redes da equipa adversária.
Ora, como se marca golo num jogo de FuteCopos? Imagine-se que existe uma bola virtual, que é disputada inicialmente, no Drink-Off que dá início ao jogo, pelos centrocampistas. Municiados de um copo cheio de uma bebida pré-definida no início do encontro, o centrocampista que conseguir bebê-lo primeiro de um trago passará a bola ao respectivo Ponta-de-Lança. Este, também municiado de um copo com o mesmo tipo de conteúdo alcoólico, marcará golo se conseguir beber primeiro que o Guarda-Redes adversário. Caso o Guarda-Redes beba primeiro, a bola virtual voltará ao meio-campo, onde será, de novo, disputada pelos centrocampistas.
O jogo termina, em casos normais, quando uma das equipas marca 3 golos, sendo que a equipa derrotada deverá pagar a conta na sua totalidade. Em caso de novo desafio (e acreditamos que ninguém goste de perder), na desforra todos os jogadores deverão trocar de posição. As bebidas mais utilizadas nos jogos de FuteCopos são a cerveja e o vinho tinto. Aconselha-se que o jogo seja efectuado nas tradicionais tascas à portuguesa, onde os habitués possam fazer as devidas apostas, quer sobre quem ganha determinado lance, quer sobre quem vai ganhar o desafio. Uma percentagem do valor das apostas deverá ser utilizada para beber.
O jogo pode ser cronometrado, especialmente quando a disputa é equilibrada. Pode estabelecer-se também que exista um intervalo, no qual todos os jogadores, obrigatoriamente, mudam de posição. Isto pode ser de grande importância para que existam jogos equilibrados, especialmente se um dos jogadores do meio-campo for particularmente dotado na arte de engolir álcool. Por regra, ao intervalo, o jogador mais virtuoso deverá rumar à baliza da sua equipa. Em caso de um Guarda-Redes defender 2 ou 3 remates consecutivos (a decidir no início do desafio), a bola irá ser passada directamente ao seu Ponta-de-Lança para que este tenha a possibilidade de marcar à equipa adversária.
Será atribuído um golo à equipa adversária, sempre que um dos membros da equipa inusitadamente vomite. Este será admoestado com um cartão amarelo. Caso entorne uma bebida, o jogador em falta será admoestado com um cartão amarelo. Um jogador será expulso directamente se de alguma forma impedir o jogador adversário de beber. A acumulação de cartões amarelos, resulta também em expulsão. Ao ficar desfalcada de um jogador, a equipa continuará em jogo. O jogador na posição oposta, da equipa adversária, terá que beber num tempo mínimo estabelecido no início do desafio sempre que a bola chegue à sua zona de acção, por forma a passar a bola ao Ponta-De-Lança, se bem que não tenha um opositor a bater.
É requerida a presença de um árbitro, que pode ser recrutado entre os convivas presentes na tasca. Caso exista um conviva iluminado pode conceder-se-lhe o prazer de relatar o desafio, se bem que tal tarefa seja melhor cumprida por alguém que conheça os jogadores, para os poder nomear adequadamente.
Muitos outros jogos existirão, este é uma mera sugestão que pode dar azo a momentos de grande prazer e fruição da beberrologia. É uma prática que se pretende estabelecer como uma das maiores tradições no seio do grupo Alcoólico Unânime.
... porque quando o vemos, normalmente, é sinal de que ele está vazio. (E se o entornámos, então, é infinitamente mais trágico)